HISTÓRICO
DO SCHEFFEL
VIDA
E OBRA
Ernesto Frederico Scheffel nasceu em Campo Bom, no dia 08 de outubro de 1927. É descendente de imigrantes oriundos de Berghausen – Westfalen, chegados em 26 de novembro de 1825, e estabelecidos na área de Lomba Grande na antiga Colônia de São Leopoldo.
Em 1935, contando oito anos de idade, transferiu-se com sua família para Hamburgo Velho. Recebeu as primeiras noções de pintura a óleo sobre madeira de sua tia Irene Jacobus. Três anos mais tarde, aluno da Escola Evangélica, seu professor Ernest Bernhoeft lhe pede que faça um quadro a óleo sobre madeira da casa do Dr. Odon Cavalcanti, Prefeito de Novo Hamburgo. Este trabalho foi entregue ao Prefeito em homenagem que lhe foi prestada pela Escola.
O homem pode ser comparado a uma árvore que leva toda uma vida para dar o seu melhor fruto e a sua mais bela flor
E. F. SCHEFFEL
Reconhecendo o valor de Scheffel, em setembro de 1940, Odon Cavalcanti convidou o menino para acompanhar o grupo de "coloninhos" que iria para Porto Alegre participar das comemorações da Semana da Pátria, no Programa de Integração Nacional da Secretaria de Educação e Cultura.
Nesta ocasião, Scheffel, com 12 anos de idade, foi apresentado pela primeira vez e publicamente como artista. Ofereceu Uma Rua de Novo Hamburgo ao Interventor, Cel. Oswaldo Cordeiro de Farias e Casa do Colono (de Feitoria Velha), para o Secretário de Educação e Cultura, Dr. J.P. Coelho de Souza.
Hóspede do Palácio Piratini, foi apresentado aos professores João Cândido Canal e Ângelo Guido que, percebendo o talento do menino, opinaram que deveria ser encaminhado ao campo das Belas Artes. No parecer de Ângelo Guido, Scheffel era “Uma revelação artística capaz de sobressair na pintura, se educar suas aptidões para as Belas Artes”. No ano seguinte, Scheffel foi matriculado, às expensas do Estado, simultaneamente na Escola Técnica Parobé e no Instituto de Belas Artes, em Porto Alegre.
No primeiro semestre de 1941 iniciou seus estudos na Escola Técnica Parobé, como aluno interno e bolsista. Por timidez, não lembrou aos professores que deveria assistir também às aulas no Instituto de Belas Artes. A lembrança foi do Diretor do Internato, Dr. Plauto Azambuja e, assim, a partir do segundo semestre, passou a assistir aulas no Instituto de Belas Artes, onde Scheffel frequenta assiduamente a Biblioteca que lhe descortina um novo mundo.
Na Escola Técnica Parobé teve como professor, entre outros, João Cândido Canal, que constante e intensamente o apoiou. No Instituto de Belas Artes seus professores foram João Fahrion, Ângelo Guido, Benito Castañeda, José Lutzemberger, Ernani Correa, Fernando Corona e Luiz Maristany de Trias.
Deste período são seus trabalhos escolares, as composições sugeridas pelo ambiente de Hamburgo Velho, as composições influenciadas pela leitura da Mitologia Greco-Romana e da História, que despertaram seu mundo de imaginação; e os trabalhos de caráter metafísico que revelam seu questionamento acerca do bem e do mal, do destino do homem e da morte.
Adolescente, vivendo intensamente esta fase de sua vida, Scheffel já revela sua garra e sua força na busca de suas tendências, suas possibilidades, seu eu interior. Ora femininos e suaves, ora viris e agressivos, ora sábios e equilibrados, seus auto-retratos, por exemplo, revelam sua tenacidade e ousadia na busca.
Em 1948, ainda prestando serviço militar, participa do II Salão Militar de Artes Plásticas, no Clube Militar, no Rio de Janeiro, onde expõe 15 trabalhos, entre eles "Combate de Poncho Verde", "Caçador", "Natureza Morta", "Auto-Retrato". Obtém Medalha de Prata, mas confidencialmente lhe é dito ser merecedor da Medalha de Ouro que foi dividida em duas medalhas de prata: uma concedida a um General e outra a Scheffel, que era Cabo.
No Rio de Janeiro mostra seus estudos a Oswaldo Teixeira, que impressionado com o jovem artista, escreve a seguinte mensagem ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul: É um jovem que, bem guiado, poderá muito produzir, porque tem bastante talento e vocação para a arte. Penso que o seu Estado devia auxiliá-lo e protegê-lo, para que melhor possa produzir e com facilidade progredir. A técnica no desenho já é bastante sólida e, com estudo acurado, deverá ampliar-se para que o vôo seja mais alto. O futuro dirá o que afirmo: Será um grande artista.
Em 1949, expõe, pela primeira vez, em Hamburgo Velho, nos Salões da Sociedade de Cantores - Frohsinn - junto com Laura Bohn, Oscar Kunz Fº e Norberto Michel.
Em junho e julho do mesmo ano, expõe cerca de quarenta e seis trabalhos, entre pintura e desenho, na Galeria de Arte da Casa das Molduras em Porto Alegre. Nesta exposição, João Fahrion adquire duas obras de Scheffel, mostrando desta forma seu reconhecimento de professor pelo trabalho do aluno.
No mês de janeiro de 1949, inicia o estudo da música com a organista Elza Kunz Hexssel, em Hamburgo Velho. Aos três meses de aprendizado, ensaia sua primeira composição, intitulada "Prelúdio em Si b Menor". No ano seguinte, 1950, viaja para o Rio de Janeiro com bolsa de estudos do Estado para seis meses, mas lá permanece por oito anos.
GALERIA
VIRTUAL
FORMAÇÃO
E PREMIAÇÃO
A permanência de Scheffel no Rio de Janeiro caracteriza-se pela luta para a obtenção do Prêmio máximo do Salão Nacional de Belas Artes - o Prêmio de Viagem ao Exterior. Paralelamente, continua o estudo de música, com foco na música de câmara e na composição.
Sem atelier, o artista depende do espaço que amigos lhe cedem. É um período de grandes provações. Atormentado, bloqueado no seu relacionamento com as pessoas, Scheffel começa a se liberar à medida que evolui a terapia de análise existencial que desenvolve com a psicóloga Lygia Loureiro da Cruz - ao longo de sete anos – e que participa do Coral de Solistas de Maximiliano Hellmann. Esta liberação, paulatinamente, se manifestará na obra do artista, através de uma tendência simbolista, provavelmente a característica mais própria de Scheffel. No entanto, essa tendência será controlada, pois para concorrer no Salão Nacional de Belas Artes, era aconselhado a realizar obras de caráter realista.
Em 1950, seus trabalhos "Noite de Máscaras", "Tempestade" e "Caramuru Nº 2" foram rejeitados no LV Salão Nacional de Belas Artes.
A convivência com Oswaldo Teixeira, com quem trabalhou como professor assistente, e a possibilidade de conhecer as obras de grandes artistas brasileiros e alguns estrangeiros, no Museu Nacional de Belas Artes, fizeram com que Scheffel aperfeiçoasse a qualidade de sua pintura.
No ano seguinte, Scheffel expõe no LVI Salão Nacional de Belas Artes o trabalho "Meditação", onde, seguindo os conselhos de Oswaldo Teixeira, aplicou-se especialmente ao estudo de modelo vivo. Obtém Medalha de Bronze.
Em 1952 sua obra "Rixa Gaúcha" foi recusada no LVII Salão Nacional de Belas Artes. Este fato provocou uma rebelião entre os artistas rejeitados, que criaram o I Salão Livre de Belas Artes, cognominado "Salão dos Recusados", no Automóvel Clube do Brasil. Expõe junto com Leopoldo Gotuzzo, Salvador Pujals Sabaté, Manuel Faria, Armando Viana, Lins de Almeida Júnior e Helios Seelinger, entre outros. Obtém o prêmio Rodolfo Amoedo.
Apresenta-se no LX Salão Nacional de Belas Artes, em 1955, com a obra "Apartamento 202" e obtém Medalha de Prata.
Em 1956, expõe no LXI Salão Nacional de Belas Artes as obras "Hamburgo Velho", "O Signo de Balança" e "Retrato de Júlia", concorrendo, pela primeira vez, ao prêmio Viagem ao Exterior. Neste Salão, como nos dois anos seguintes, o júri se divide e criam-se problemas quanto à premiação de Scheffel, questão amplamente divulgada pelos jornais da época.
O tríptico – "O Culto da Natureza", "Procriação", "O Conhecimento da Natureza", exposto no LXII Salão Nacional de Belas Artes, em 1957, e não premiado por ser considerado pornográfico, recebeu, extra Salão, o prêmio Grande Medalha (Ouro) da Academia Brasileira de Belas Artes.
Em 1958, participa do LXIII Salão Nacional de Belas Artes, concorrendo pela terceira vez ao "Prêmio Viagem ao Estrangeiro", expondo "Jerônimo" e "Caramuru-Guaçu". Obtém o "Prêmio de Viagem ao Estrangeiro" com "Jerônimo", óleo de 200 x 100 cm, que atualmente se encontra na Sala de Pintura Contemporânea do Museu Nacional de Belas Artes. Formaram o júri Salvador Pujals Sabaté, Humberto Cozzo e Nelson Netto. Como nos Salões anteriores, houve conflito entre os jurados o que levou Sabaté a se afastar do júri justificando sua atitude para a imprensa: notei que havia trabalho preparado a favor de certo pintor, preterindo Ernesto Frederico Scheffel, incontestavelmente o que mais mereceu o prêmio. É o único que, no momento, tem todas as credencias de artista (insisto nesta palavra). O bloqueio ao seu nome é uma investida do modernismo, anulando a pintura clássica. Como os dois pintores têm seus quadros na mesma sala, o público que julgue.
É patente que a pintura de Scheffel é sustentada por uma estrutura técnica tradicional, evidente na solidez do desenho, na sobriedade do colorido e na densidade do claro escuro, fechando num conjunto de atmosfera, harmonia e compacticidade.
Em 10 de maio de 1959, Scheffel parte para a Europa, deixando o Brasil pela primeira vez. Fixando seu atelier em Florença, só retornará após quatro anos, para visitar seus familiares.
COMPARAÇÃO
E AFIRMAÇÃO
Após uma viagem por oito países europeus, visitando museus e galerias de arte, em outubro de 1959, Scheffel chega a Florença, na Itália. Centro de cultura e arte do Renascimento, a cidade cativa o artista que tinha afinidades com os mestres renascentistas, principalmente Leonardo Da Vinci. Alonga sua estada e, em dezembro desse ano, decidido a permanecer, monta seu atelier, que mantém até 1996.
Começa uma nova vida para Scheffel, que, pela primeira vez, tem um atelier seu. A convivência num ambiente de cultura e arte e o contato com outro idioma, fazem com que Scheffel saia de seu mutismo e se expanda. Expansão que se manifestará inicialmente na intensificação o colorido e, posteriormente, também na temática. Passa a dedicar-se intensamente, como autodidata, à composição musical, ao mesmo tempo em que estuda com o maestro Armando Fanelli, do Conservatório Cherubini, música de Câmara e Orquestração.
Inscreve-se na Academia de Belas Artes para praticar escultura, escolhendo como professor Antônio Berti. Desenvolve durante todo o ano de 1960 o "Estudo de Cavalo". Posteriormente, nesta mesma Academia, praticará relevo, gravura e afresco.
Simultaneamente, em janeiro de 1960, inicia, convidado pelo professor Augusto Vermeheren, os trabalhos de restauração no laboratório da Galeria dos Ofícios. Restaura pictoricamente, durante três anos, o quadro "Os Quatro Filósofos" de Rubens, "Bianca Cappello" de autor desconhecido do Renascimento, quatro trabalhos flamengos de propriedade da rainha da Romênia, "Homem Desconhecido" de Tintoretto, Felipe IV" de Velazquez, "Felipe II" de Tiziano e "Cardeal Bibbiena" de Rafael.
Ao longo dos anos 60, Scheffel realizará cerca de oito obras públicas em Florença. A realização dessas obras numa cidade exigente e criteriosa em assuntos de arte, é o reconhecimento do valor e gênio do artista brasileiro. A primeira obra pública é uma encomenda do Consulado Brasileiro em Florença: a efígie de Pedro Américo, em bronze, que se encontra em Via Maggio, 11, onde aquele artista faleceu em 1905. Curiosamente, Scheffel que se estabelecera em Florença como pintor, recebe sua primeira encomenda como escultor.
A este trabalho público seguem-se outros, a maioria de cunho religioso. Desde 1960, Scheffel estudava um cartão de afresco para a "Madonna del Pitto" a ser realizado na Villa del Pitto. Para tal, realizou dois estudos: a "Madonna Nº 1", de caráter não italiano e um tanto simbolista, e a "Madonna Nº 2", que lembra o refinado estilo renascentista italiano. É executado em afresco a "Madonna Nº 2" (Madonna del Pitto) e inaugurada em setembro de 1966, com a presença do Prefeito de Florença, Piero Bargellini. Este trabalho chamou a atenção do professor Antônio Berti, que recomenda Scheffel para a execução do "Batismo de Jesus" para a Capela Ignesti em San Piero a Sieve, em 1968, e do "Grande Batismo" na Igreja Maria Immacolata, em Sesto Fiorentino, inaugurada em dezembro de 1969, pelo cardeal de Florença.
Além destes afrescos, Scheffel realiza, em 1966, "Cristo", óleo sobre tela, para a Igreja San Giovannino dei Cavalieri e, em 1969, "Beato Giovanni da Vespignano", óleo sobre madeira, encomendado pelo arcebispo de Florença, para a Igreja de San Martino, em Vespignano. Também uma adaptação arquitetônica do Oratório sobre a Ponte de San Piero a Sieve, que acolhe a escultura "Anunciação" de Antônio Berti, e o "Pavimento em Tijolo", mosaico realizado para o Jardim da Villa II Pitto.
Embora se encontrasse em Florença, onde existem aproximadamente cem galerias de arte, Scheffel se mantém afastado do mercado de arte, por uma opção pessoal que traz desde a adolescência. É exíguo o número de exposições que realizou durante a década de 1960: em janeiro de 1964 realiza uma exposição individual na Casa di Dante, em Florença; em novembro expõe na Galleria D'Arte Spinetti, exposição que recebe o seguinte comentário do crítico de arte do jornal "La Nazione", Umberto Baldini: Ernesto Frederico Scheffel recolhe, com sua obra anterior, pintura e desenhos mais recentes: mostrando um efetivo distanciamento do primeiro realismo romântico e um voltar-se para soluções onde a pintura parece entrar com determinação na sua mais excitada fantasia. Em março de 1965, expõe na Galleria D'Arte da Casa do Brasil, na Embaixada brasileira em Roma; em maio de 1969 expõe novamente na Casa di Dante. Nos anos de 1965, 1966 e 1967 participa de exposições coletivas onde é premiado com Medalha de Bronze, menção especial e primeiro prêmio respectivamente.
Durante este período viaja duas vezes ao Brasil. Em 1963 permanece onze meses, oportunidade em que realiza o estudo para o Monumento ao Sapateiro, que foi exposto na 1ª FENAC, e o retrato de Leopoldo Petry. Esse ano é importante para Scheffel porque ocorre a primeira execução de uma composição sua para orquestra, escrita em Florença e executada pela OSPA, sob a regência do maestro Pablo Komlós.
A década de 1960 foi para Scheffel um período de exame e comparação com os mestres florentinos do Renascimento italiano. Admirando a qualidade do trabalho desses artistas, Scheffel trabalhou intensa e meticulosamente desde os anos do Instituto de Belas Artes, em Porto Alegre. Os frutos desse trabalho aparecem nas obras públicas que deixa em Florença, afirmando-se, indiscutivelmente, como um artista internacional e atemporal.
AFIRMAÇÃO
E REALIZAÇÃO
Scheffel inicia a década de 1970 com duas exposições individuais: no Circolo Pio X, em Pistoia (março de 1970) e na Casa di Dante, em Florença (abril de 1971), sua última exposição no Círculo dos Artistas. As obras expostas resenham sua atividade desde que chegara à Europa: cartões de afresco, quadros a óleo, aquarela, pastel e desenho.
Em relação à última mostra, o crítico de arte Paloscia do Jornal La Nazione faz o seguinte comentário: ...Uma pintura sustentada de uma incomum padronagem de meios técnicos e de aprofundado mister, mais direta e agradável, a nosso ver, em certas pequenas naturezas mortas e paisagens, onde o frescor da palheta substitui a gravidade da pesquisa formal. Muito belos, de todo modo, alguns retratos (especialmente os desenhos) e notáveis pela força de estrutura os cartões de afresco para obras realizadas em igrejas, capelas e oratórios.
Influenciado pelas manifestações de protesto contra as instituições e os valores vigentes que eclodem na Europa na segunda metade dos anos 60, Scheffel assume sua agressividade e inaugura uma nova fase, mais ousada e autêntica, no seu labor artístico.
É através da música atonal e da série de trabalhos em forma de cartazes, utilizando a técnica carvão e pastel, que o artista vai se expressar. Na pintura, a proposta de Scheffel é apresentar o ser humano de forma publicitária, expondo todas suas qualidades na sua plena autenticidade, como por exemplo, "Flautista", "Masturbação", "Giramundo", "Casaco de Peles", que fazem parte do acervo da Pinacoteca APLUB de Arte Riograndense, em Porto Alegre. No campo da música, em 1972, conclui sua obra "Tocata e Fuga" de caráter expressionista, e de uma agressividade desconhecida nas criações de Scheffel. Será executada no Brasil, em 1974, pela OSPA, sob a regência do maestro Silva Pereira.
Esse processo de intensa criatividade é interrompido, quando, em fins de 1973, Scheffel é convidado oficialmente pela Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo, para criar o Monumento ao Sapateiro e para participar dos festejos do Sesquicentenário da Imigração Alemã no Rio Grande do Sul. Esse fato marca o início do regresso do artista ao Brasil, especificamente ao Rio Grande do Sul, sua terra de origem.
O projeto para o Monumento ao Sapateiro é vetado pela Câmara de Vereadores pelo custo elevado que significa sua execução. Contudo, Scheffel permanece em Novo Hamburgo e, em julho de 1974, sob o patrocínio do Grupo Strassburger, expõe algumas de suas obras na SESQUIBRAL.
A Municipalidade de Novo Hamburgo, através do COMTUR, mostra interesse em abrigar e expor, permanentemente, as obras do artista. As conversações evoluem para um contrato entre a Prefeitura Municipal – sendo prefeito Miguel Schmitz – e Ernesto Frederico Scheffel, que resultou na criação da Galeria de Arte Municipal, em 23 de setembro de 1974, através da Lei Municipal Nº 64/74. É um contrato de exclusividade – destina-se a expor somente as obras de Scheffel – enquanto que a Prefeitura se responsabiliza pela aquisição e restauração de um prédio de valor histórico e cultural que abrigará as obras que Scheffel coloca à disposição da municipalidade. A Galeria de Arte Municipal é inaugurada, incompleta, em 05 de novembro de 1978, na administração Eugênio Nelson Ritzel.
Problemas ligados à importação das obras de Scheffel obrigaram a Prefeitura Municipal a instituir, em 04 de outubro de 1979, através do decreto Lei Nº 236/79, a Fundação Ernesto Frederico Scheffel, com autonomia jurídica e administrativa. As obras de Scheffel que com a criação da Galeria de Arte Municipal seriam doadas definitivamente apenas após a morte do artista, com a instituição da Fundação foram doadas por antecipação, constituindo-se no acervo e patrimônio inalienável da entidade.
A pessoa de Scheffel e sua obra despertaram o interesse também de entidades privadas e, em 1976, inaugura seu atelier em Porto Alegre, sob o patrocínio da APLUB. Obras da fase contestatória do artista são doadas pelo pintor à entidade e fazem parte do acervo da Pinacoteca APLUB de Arte Riograndense. Esta aproximação com a APLUB, mais que a criação de uma entidade que leva o seu nome, radica temporariamente Scheffel no Rio Grande do Sul: desde 1974, Scheffel divide sua residência entre Florença, Porto Alegre e Novo Hamburgo.
Partindo muito jovem para percorrer seu caminho de artista, Scheffel sempre lembrou com carinho de Hamburgo Velho, onde deixava sua família e seus companheiros de infância. Do exterior escreve para um amigo, esboçando um rápido desenho: Hamburgo Velho é a paisagem incomparável que amo para sempre. Sua experiência vivida em relação à preservação do patrimônio histórico e arquitetônico na Europa, mais sua consciência lúcida da história da humanidade que se perpetua nos testemunhos vivos deixados por aqueles que fizeram e fazem a história, levam Scheffel a se posicionar como um lutador inconteste da preservação do patrimônio histórico e artístico. É responsável pela criação da Seccional de Novo Hamburgo do Movimento de Defesa ao Acervo Cultural Gaúcho e do Movimento de Recuperação do Patrimônio Histórico e Artístico de Hamburgo Velho.
É possível que o trabalho de preservação e recuperação do patrimônio histórico seja a forma pela qual Scheffel se reintegra no ambiente de onde partiu aos doze anos de idade. Reintegração que se faz na valorização do acervo insubstituível que identifica a evolução histórica desta sociedade.
A década de 1970 foi para Scheffel um período de realização e de novas formas de expressão. A integração e participação no ambiente em que vive possibilitaram a novidade no campo da expressão: na Europa contestando através da pintura e em Novo Hamburgo lutando pela preservação do patrimônio histórico.
No campo da música teve a oportunidade de ouvir executadas pela OSPA seis de suas composições musicais. Nas artes plásticas, realizou dois trabalhos públicos no Rio Grande do Sul: um painel a óleo para a sede matriz da Caixa Econômica Estadual em Porto Alegre, e o Monumento ao Sapateiro, em Campo Bom.
Mais importante, tornou-se realidade um sonho que sempre alimentou: colocar em exposição permanente sua obra – que conservou reunida – no Museu de Arte e Fundação que levam seu nome.
HOMENAGENS E RECONHECIMENTO
Atualmente, o acervo da Fundação Ernesto Frederico Scheffel está composto de trezentos e oitenta e cinco obras, guardadas e expostas num espaço físico de 2.840m². Um legado que o artista deixa para a cidade que o acolheu, para o país e para as futuras gerações.
Aos oitenta anos de idade, Scheffel continua produzindo – música, pintura, ...... – e dividindo seu tempo e residência entre Itália e Brasil. Quando na Europa, reside na Província de Lucca, a 118 Km de Florença, numa casa de campo que comprou e restaurou na década de 1990.
Apesar de não ter investido no mercado de arte, é reconhecido como excelente artista tanto no Brasil como no exterior. Esse reconhecimento vem, agora, na forma de homenagens e espaços que gentilmente lhe são disponibilizados para mostrar seu trabalho e sua capacidade criadora nas artes plástica e musical.
Em 1997, recebe do governador do Estado do Rio Grande do Sul a medalha “Embaixador do Rio Grande - Brava Gente". Em 2000, foi a vez do município de Novo Hamburgo lhe conferir o título de “Benfeitor da Cidade” e do Centro Cultural Italiano, da mesma cidade, nomeá-lo Sócio Honorário.
Na Europa, por iniciativa de amigos, E. F. Scheffel é convidado a realizar uma exposição retrospectiva em Barga - Província de Lucca – nos meses de novembro e dezembro. Contou com o patrocínio da Embaixada do Brasil em Roma, Ministério das Relações Exteriores, Varig Brasil, município de Barga; município de Fabbriche di Vallico, Comunità Montana – Media Valle del Serchio e Administração da Província de Lucca.
No ano seguinte, Scheffel é, pela primeira vez, apresentado na Alemanha – em Bad Berleburg – como compositor de música erudita. Composições suas serão interpretadas pelo violinista Luz Leskowitz, por ocasião da Semana de Música Internacional – realizada anualmente no Castelo Zu Sayn - Wittgenstein Berleburg – Sul da Westfalia. Em 2002, é incluído em CD da Jugendorchester Charlottenburg, com regência de Elke Mentges. A Solista é Susanne Heydorn. Scheffel tem sua música – "Le Quattro Stagioni" com letra de Marco Dilorenzo, Florença 1967 – gravada junto com Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847), Piotr Ilitch Tchaikovsky (1840-1893), Antonin Dvorák (1841-1904).
O ano de 2004 começa com homenagens e reconhecimento em Novo Hamburgo, quando em janeiro foi agraciado com o Troféu "O Sul - Mérito do Vale", por sua contribuição à cultura do Estado. Chegando à Itália, em abril, o Conselho Municipal de Fabbriche di Vallico confere-lhe a Cidadania Honorária.
Em outubro, em Bad-Berleburg, na Alemanha, é realizado um evento onde Scheffel é homenageado, ao mesmo tempo em que homenageia – com a escultura de um torso – o compositor Friedrich Kiel (1821-1885). É o Festival Kiel-Scheffel: ambos artistas aniversariantes em 8 de outubro. Além da inauguração da escultura, o Museu da cidade organiza uma exposição que reúne cinqüenta obras de Scheffel. O Festival Kiel-Scheffel é encerrado com um concerto de músicas de ambos compositores, em evento realizado no Castelo local, sob os auspícios da Princesa Benedikte.
A série de reconhecimentos e homenagens a E. F. Scheffel durante o ano de 2004, concluem no Brasil: em Novo Hamburgo, quando recebe o título de Cidadão de Novo Hamburgo, concedido pela Câmara de Vereadores do município. Nos anos seguintes o tempo e energia de Scheffel são dedicados ao registro de suas memórias. Em 5 de novembro de 2013, aniversário dos 35 anos da Fundação Ernesto Frederico Scheffel é lançada a sua autobiografia “Scheffel por ele mesmo”.
Em 2015, recebe sua derradeira e principal homenagem que, sintetiza sua contribuição para cultura brasileira. A realização do sonho mais audacioso do Artista, a preservação do Centro Histórico de Hamburgo Velho. O Decreto Federal, do dia 8 de maio do mesmo ano, declara o tombamento, através do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), do Sítio Histórico de Hamburgo Velho, bem como, o acervo pictórico de Ernesto Frederico Scheffel legado ao Museu que leva seu nome.
Em 16 de julho de 2015, faleceu Ernesto Frederico Scheffel aos 87 anos. O Governo brasileiro, através da Presidente da República, Dilma Rousseff, decretou Luto Oficial e homenageou Scheffel com nota de pesar:
"O Brasil perdeu hoje um artista plástico de imenso talento: Ernesto Frederico Scheffel.
Um gaúcho que ganhou o mundo com seus traços, e nos brindou com obras extraordinárias que permanecem, para admiração de muitas mais gerações, na Fundação que leva seu nome em Hamburgo Velho.
Transmito a seus familiares, amigos e admiradores meus sentimentos por sua perda, e homenageio o legado artístico extraordinário que Scheffel nos deixou."
Ângela Teresa Sperb